quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Visão do Paraíso

HOLANDA, S. B. VIII. Visão do paraíso. In: A Visão do Paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil, São Paulo: Brasiliense, 2000.
Introdução: Fichamento sobre o capitulo “Visão do Paraíso”, no qual Sérgio Buarque de Holanda trata a veracidade retratada por cronistas ao relatar, ao encontrar na America uma descrição dita exata do paraíso descrito nos Genesis.
Autoria: Erika Moraes Rosa de Carvalho - Setembro/2011

            Durante seu texto sobre “A Visão do paraíso”, Sergio Buarque, demonstra as varias maneiras que cronistas do séc. XVI descrevem as “Indias Ocidentais” e os nativos do chamado “Novo Mundo”, após a chegada de Colombo.
            Traz em seus relatos uma simbologia pré-formulada, ao tratarem os nativos como seres puros e sem malicia, ou seja, inocentes e livres de pecado, o que segundo Sergio Buarque provaria uma “[...] visão imaculada [...]” (p. 233)
           O deslumbramento de Cabral com o novo continente, dentre tantos outros conceitos adaptados por diversos cronistas, tende a assimilar a descoberta como "o paraíso" descrito nos Genesis, assumindo assim a forma desejada e descrita miticamente.
           “[...] algum lugar remoto, resguardado do mundo pela imensidão dos mares, e entre gentes tão nuas de roupas quanto de vícios, se acharia alguma imagem atenuada, embora daquilo que foi o paraíso.” (p. 240)
           Havia também, não só uma tal inquietude com relação aos nativos, mas também com relação a fauna e flora local.
         [...]alegan lo primero, que faltan ou algunas espécies en el Universo, que hubo en los pasados siglos; como entre los peces El Murice, ò Purpura, com cuya sangre se teñian los vestidos de los Reyes: entre los brutos El Monoceronte, ò Unicornio; entre las aves El Fenix; entre lãs plantas El Cinamomo; entre lãs piedras El Amianto, de cuya fibras se hacia el lino llamado asnestino, ò Incombustible. (p. 240)
[tradução] a primeira afirmação, que falta ou algumas espécies no universo, que existiram nos séculos passados​​; como entre os peixes o Murica; ou como o roxo, cujo sangue roupas manchadas dos Reis; entre os brutos, os Monoceronte, o Unicornio; entre as aves, a Fênix, entre as plantas, as Cinamomo, entre as pedras, o amianto, que cujas as fibras se fazia o linho chamado asnestino, ou não-combustíveis.

           Toda esta crença deixa clara a ideologia sobrenatural, da natureza aqui existente, exposta pelos europeus sobre o Novo Mundo.
           Contudo ao descrever o pensamento e crenças do período (renascentista) em que vivia a Europa, é fácil interpretar a necessidade, talvez até a veracidade da descoberta do período, afinal “[...] como não dar credito aos que alegassem a seneetude da terra[...]” (p. 250)
            Havia um certo fascínio descrito ao Colombo deparar-se com a fauna nativa.
[...] três variedades de coelhos e de uma casta de cães que não ladram [...] rouxinóis, cujo canto julgou ouvir como enfeitiçado [...] serpente de sete pés de comprimento [...] além de pacifica e benigna, tinha carne banca e de suavíssimo sabor [...] porém, quanto aos papagaios, e deles levou nada menos que quarenta [...] eram todos muito alegres, de cores vivacíssimas, uns verdes outros amarelos, alguns com uma faixa vermelha no pescoço, o modo de grotoejas[...] (PP. 254-255)
            A descoberta de um pássaro que poderia imitar a vós humana traria mais veracidade a ideia de que o Paraíso fora encontrado, pois é descrito que anjos seguidores de Lucifer, após a revolta, foram transformados em pássaros que poderiam entoar hinos à Gloria de Deus.
            O cenário edênico proposto pelos cronistas da época não para somente aí, a ideia de paraíso também deve ao fato de que:
[...] não se conhece ali neve ou granizo, e nada é triste ou corrupto; sem haver febre ocorre o antídoto, e não existindo defeitos na Natureza, já lá aparecem os remédios. Ausentes o horror hibernal e as intempéries, prevalece constante a primavera, e tudo quanto há vai em aumento pela própria harmonia do tempo. (p.258)
            Dentre tantas provas da realeza edênica encontrada no continente, destacava-se a de que havia resquícios de existência da fênix, que seria provada pela jibóia, que “[...] depois de morta e despido de carne e seu espinhaço, dizia-se que novamente se cobria dela e tornava a viver.”(p. 261) pois se havia a possibilidade de uma cobra descamar-se de sua velhice e morte, e tornar-se jovem novamente a ponto de alcançar a eternidade, poderia ser encontrada também uma ave de tal poder!
            A mitificação do território não para nestes vestígios milagrosos, pois vai além, através de testemunhos é relatada  a metamorfose do beija-flor.
            “Sou testemunha, que vi com meus olhos, huma dellas meia ave e meia borboleta, ir-se aperfeiçoando debaixo da folha de huma latada, ate tomar vigor e voar.” (p. 262)
Este tipo de relato não é único, o que acaba transformando-se em realidade, pois neles existia uma retórica rica em detalhes.
A associação da ideia de paraíso com a fauna e flora presentes no novo mundo era também fonte natural de recursos curativos como é descrito:
O corno da anhuma, e ainda os esporões que lhe saem das asas, ou mesmo os ossos, mormente os da perna esquerda, passaram entre nós a ser panacéia e preservativo universal. Bebidas em água ou vinho, suas raspas curavam ate picadas de cobra. Aos mudos daria esse chifre o dom da palavra, segundo aconteceu a um menino que entrou a falar, di-lo Fernão Cardim, quando lhe ataram ao pescoço poderoso talismã. (p. 266)
Diante de tanta prova edênica, ao depararem-se cm uma erva que ao ser tocada recolhia-se imediatamente, ocorre lhes ali a comparação a castidade de Eva.
Pode se assim afirmar que todos esses fatos revelam a necessidade do renascimento em significar todas as coisas, dar-lhes um propósito, mas, sobretudo foram os espanhóis os povos que se apegaram “[...] por mais tempo a concepções que tinham parecido particularmente atraentes para sua gente e que exprimiram em maior ou menor grau [...]” (p. 269)
Outro fato de grande valor e importância foi a constatação da existência do maracujá (que assim como a maçã, também descrito como fruto do pecado de Adão e Eva) no território do atual Perú, cuja suas folhas (segundo explicações bíblicas) serviram para que adão e Eva cobrissem sua desnudes.
Não caberia atribuir grande significado, por si só, a tais coincidências, certamente involuntárias, ou melhor, dependentes de um modelo mais ou menos fixo que atravessando os séculos parecera sempre adaptar-se, e quase indistintamente, a todos os sítios cuja amenidade e formosura se quisesse realçar. [...] ‘a terra é mui temperada’ [...] (p. 291)
Os relatos descritos edenicamente sobre o Novo Mundo, resultou  no “[...] desenvolvimento da exploração e colonização do Brasil.” (p. 292)

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