sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Fichamento: O PROJETO DE PESQUISA EM HISTÓRIA: DA ESCOLHA DO TEMA AO QUADRO TEÓRICO

O PROJETO DE PESQUISA EM HISTÓRIA: DA ESCOLHA DO TEMA AO QUADRO TEÓRICO[1]

ERIKA MORAES ROSA DE CARVALHO[2]

PALAVRAS-CHAVE: Projeto de Pesquisa – Delimitação do Tema – Quadro Teórico – Hipótese

O projeto de pesquisa: funções e estrutura fundamental
            O projeto de pesquisa pode ser considerado um roteiro, por uma viagem no conhecimento, traçando o caminho que o pesquisador deverá seguir. Como uma viagem, o investigador deverá delimitar seu tema, ou local a ser visitado.
“O Projeto de Pesquisa deve ser, naturalmente, um instrumento flexível, pronto a ser ele mesmo reconstruído ao longo do próprio caminho empreendido pelo pesquisador.” (p. 10)
            Não se concretiza nada sem antes possuir um projeto, um caminho, do qual nos coordena em nossa jornada.
            Segundo JOSÉ BARROS[3], o projeto de pesquisa pode ser dividido em 7 funções:
1-    Carta de intenções: “(...) onde o pesquisador exibe a sua proposta investigativa (...)” (p.12)
2-    Item curricular: programa implantado em instituições de Pós-Gradução
3-    Direcionador de pesquisa
4-    Roteiro de trabalho: “(...) sem o qual o pesquisador desperdiçaria seus recursos(...)” (p.13)
5-    Instrumento para elaboração de idéias
6-    Dialogo cientifico e acadêmico: que permite a exposição do trabalho em andamento, para profissionais mais experientes
7-    Retrato de uma pesquisa em andamento
Com um projeto de pesquisa podemos antecipar algumas respostas essenciais da pesquisa.
“O que se pretende fazer? Por que fazer? Para que fazer? A partir de que fundamentos? Com o que fazer? Como fazer? Com que materiais? A partir de que dialogo? Quando fazer?”(p.14)
O projeto deve ser dividido em:
1-    Introdução
2-    Justificativa
3-    Objetivo
4-    Quadro teórico
5-    Hipótese
6-    Fontes e Metodologia
7-    Bibliografia
8-    Cronograma
Que para facilitar a compreensão do pesquisador BARROS propõe a utilização das perguntas na seguinte maneira:
- Quem fará?                              -Descrição pessoal
- O que fará?                              -Delimitação da temática e formulação do problema
- Dialogando com quem?        -Revisão bibliográfica
- Por que fazer?                        -Justificativa
- Para que fazer?                      -Objetivo
- Com que fundamento?         -Quadro teórico / Hipótese
- Com que materiais?               -Fontes e Metodologia / Bibliografia
- Com que instrumentos?       -Fontes e Metodologia
- De que modo fazer?              -Fontes e Metodologia
- Quando fazer?                        -Cronograma
- Com que recursos?                -Recursos e Aspectos Orçamentários
Introdução e delimitação do tema
            A introdução do projeto pode aparecer de duas maneiras, uma seria utilizada como capitulo especial “(...) onde o tema é simultaneamente apresentado e discutido já de forma aprofundada.” (p.23), ocorrendo somente se não houver um capitulo que destaque a “Delimitação do Tema” ou a “Exposição do Problema”, porém se já existir um capitulo destinado a estes assuntos, ocorrerá a segunda maneira, na qual a introdução receberá a função de uma espécie de resumo do projeto.
            O tipo de introdução de resumo facilita a compreensão do conteúdo da pesquisa sem a necessidade da leitura total do trabalho, este tipo de introdução expõe a ideia central para executivos de grandes empresas que possuem pouco tempo e examinadores de projetos de uma instituição acadêmica.
            “A Introdução do tipo resumo é o que assegurará que o seu projeto será bem compreendido nas suas linhas gerais, mesmo que o avaliador não tenha uma disponibilidade inicial para ler o Projeto inteiro.” (p.24)
            Quando vamos fazer um projeto, o ponto fundamental é a escolha do tema, que deve ser interferida por fatores combinados, como “(...) o interesse do pesquisador, a relevância atribuída pelo próprio autor ao tema cogitado, a viabilidade da investigação, a originalidade envolvida.” (p.25)
            Porém ao escolher um tema devemos estar cientes de que ele ocorreu em outra época, e escreveremos ela em nosso tempo, o ponto de vista nosso tempo é contemporâneo.
            “Incorporar uma dimensão ética a pesquisa cientifica sem sombra de duvida uma das mais legitimas preocupações que devem assaltar o pesquisador neste inicio de milênio.” (p.27)
            “A escolha de um tema, enfim, frequentemente se faz sob a força de ondas de impacto que nem sempre são percebidas pelos pesquisadores.” (p.29)
            Durante muito tempo a história foi escrita de forma descritiva ou narrativa, porém agora é exigido do historiador que ele recorte um problema dentro de seu tema, transformando então o problema em recorte, com isso o conhecimento histórico foi ampliado.
            A escolha do tema deve ser algo que interesse o pesquisador, que motive sua curiosidade intelectual ou uma vontade particular do conhecer mais profundamente um determinado tema. Porém ele deve também ser algo que interesso não só ao pesquisador, pois “(...) o pesquisador deve se esforçar por encontrar um tema que o deixe simultaneamente em paz consigo mesmo e em paz com o mundo que o cerca.” (p. 35)
            “Por mais que um tema nos interesse, e por mais que o consideremos relevante, será inútil embarcar na aventura da proteção de conhecimento cientifico se este tema não for viável.” (p. 35)
            Devemos estar ciente de que temas podem não possuir documentação adequada (ou o acesso a estes documentos for dificultado), entre outras preocupações que o pesquisador deve abordar e se perguntar se realmente este tema é viável.
            “(...) pode-se dizer que um tema bem delimitado de pesquisa histórica deve trazer muito claramente a definição de três dimensões fundamentais: o recorte espacial, recorte temporal e o problema.” (p.41)
            Quando pensamos em recorte temporal, isso não deve ser uma escolha propositalmente arredondada, como “Referencial político dos últimos 10 anos”, “... mas sim a um problema a ser examinado ou a uma temática que será estudada” (p.42)
            Já o recorte serial é o recorte do “(...) objeto não propriamente em função de uma determinada realidade histórico social concernente a uma delimitação espácio-temporal preestabelecida, mas mais precisamente em função de uma determinada serie de fontes ou de matérias que é constituída precisamente pelo historiador.” (p.47)
Revisão Bibliográfica
            Ao iniciarmos nossa pesquisa devemos fazer um levantamento de trabalhos já realizados sobre o assunto que será pesquisado, pois será um referencial, mesmo que sirva somente para ser uma abordagem critica.
Partir da ideia de que seu conteúdo é único seria prepotência e ingenuidade, por mais original que seja sua ideia, sempre existirá algum conteúdo aproximado de outros autores.
“Neste sentido, a ideia de uma Revisão Bibliográfica é enunciar alguns dos interlocutores com os quais você travará seu dialogo historiográfico e cientifico.” (PP. 54-55)
Este conteúdo aperfeiçoará sua proposta temática, e deverá aparecer em seu trabalho, esteja ele presente no quadro teórico, introdução ou em um capitulo especial.
Pode ser que confundam a Revisão Bibliográfica com Referência Bibliográfica (que citarão todas as referencias usadas na produção de sua pesquisa e estará presente no final do trabalho).
“O que se pede na Revisão Bibliográfica são comentários críticos sobre alguns itens da bibliografia existente que você considera particularmente importantes, seja para neles se apoiar, seja para criticá-los.” (grifos do autor) (p.55)
A organização desta Revisão Bibliográfica não possui uma maneira unicamente correta de ser feita, “(...) uma vez que todo o tema incorpora habitualmente varias coordenadas que poderão ser discutidas na ordem que o pesquisador escolher, e com ênfase diferenciadas conforme a orientação que pretende imprimir à Pesquisa.” (p. 62)
Justificativa e Objetivos
            Alguns pesquisadores confundem a justificativa de seu trabalho com o objetivo, porém existe diferença entre elas:
            - Justificativa                                  -Por que fazer?        - “(...) refere-se às motivações que o conduziram a propor a Pesquisa, e às razoes que sustentam a sua persistência em realizá-las.” (p. 67)
            - Objetivo                                        -Para que fazer?     - “(...) corresponde às finalidades que você pretenderá ter atingido quando a pesquisa tiver sido realizada.” (p.67)
            A justificativa deve ser organizada por sua relevância social, sua relevância acadêmica, sua originalidade, viabilidade, etc...
            - Relevância social                        -“Por que o seu tema ou a sua pesquisa é socialmente importante: quais os benefícios que podem reverter para a sociedade.” (p. 69)
            - Viabilidade                                  -“Por que a sua pesquisa é concretamente viável nas condições propostas. Citar facilidade de acesso às fontes (em arquivos ou em edições impressas). Arquivos e bibliotecas que poderão ser visitados, formações ou potencialidades curriculares que o credenciam a empreender a pesquisa proposta, etc.” (p.69)
            - Originalidade                                             -“O que a sua pesquisa ou o seu objeto traz particularmente de novo, seja em termos temáticos, em termos teóricos, ou em termos mitológicos” (p.69)
            - Pertinência do tema                                 -“Manter o que o seu tema é congruente, vale citar autores que assinalaram caminhos similares em obras anteriores” (p.69)
            - Relevância Cientifica e Acadêmica     -“Por que o seu projeto ou a sua pesquisa é importante do ponto de vista acadêmico: que lacunas na bibliografia já existente ele virá preencher que contribuições pode dar a determinado campo da Historiografia” (p.69)
            “(...) ‘Objetivos’ é o único do Projeto de Pesquisa que tende a ser apresentado em tópicos listados.” (p. 75)
Quadro Teórico
            A ideia de “teoria” e “metodologia” pode confundir alguns pesquisadores, no entanto são bem distinguidos nas ciências exatas, definindo a teoria com um caráter abstrato e a metodologia com um caráter concreto. Porém nas ciências humanas a teoria remete um jeito de ver o mundo ou pensar (no caso da filosofia), tendo como ponto de partida “... uma determinada maneira como vemos o processo histórico...” (p. 84), já a metodologia está presente no modo de fazer, determinando o modo de trabalhar (denominado práxis).
            “(...) teoria e metodologia podem e devem estar intimamente articuladas (...)” (p.85)
            Podemos dividir o Quadro Teórico em algumas partes propostas por BARROS:
            - Revisão Bibliográfica                   -“se não tiver sido feita em um item à parte, e nem na introdução” (p.86)
            - Campo Histórico                           -“Campo de Estudo no qual se insere a pesquisa (História Econômica, História Política, História Cultural, etc...)” (p. 86)
            - Diálogos Interdisciplinares         -“Disciplinas ou campos com os quais seu trabalho dialoga” (p.86)
            - Posicionamentos Teóricos         -“adesão a linhas ou correntes teóricas se for o caso” (p.86)
            - Perspectivas e Horizontes Teóricos
            - Categorias e Conceitos               -“estabelecendo definições, conceitos e categorias essenciais para a pesquisa, ao mesmo tempo em que dialoga com autores que serão apropriados ou rejeitados” (p.86)
            Em alguns casos é importante para o pesquisador explicar o seu campo histórico de atuação, esse campo é dividido em áreas distribuída em:
- Domínio (Temas)                     -refere-se “(...) aos ‘agentes históricos’ que eventualmente são examinados..., e aos ‘objetos de estudo’(...)” (p.101)
- Abordagens (Metodologia)         -ligada ao campo de observação, ou seja, os mais relacionados a metodologia do que a teoria.
- Dimensões (Teoria)                     -ordem de classificação que destaca a realidade social estão sempre ligadas entre si (História Econômica, Política, Cultural...)
A produção textual de um projeto deve ser elaborada de forma que comunique sua ideia com seus leitores, de maneira que o conteúdo não possua expressões de difícil compreensão, afinal nem todos os seus leitores possuem a compreensão extensa de vocabulários científicos, se houver necessidade de empregar
Simplificando “conceito”, é uma generalização “(...) que o indivíduo pensante utiliza para tornar alguma coisa inteligível nos seus aspectos essenciais para si mesmo e para os outros (...) o conceito constitui uma espécie de órgão para a percepção ou para a construção de um conceito sobre a realidade (...)” (p.110)
Hipóteses
            Ao inicio do livro, foi destacado a necessidade de resolução de um problema, problema esse que daria inicio a nossa pesquisa. Após formularmos um problema (tema), iniciamos uma suposição que nos levaria a imaginar antecipadamente a resolução da problemática, iniciando o ponto de partida do pesquisador, porém uma hipótese (suposição) não utiliza a verdade e sim a imaginação do pesquisador, que somente após as verificações factuais levará a reais respostas.
            Esta hipótese, segundo BARROS, possui varias funções no projeto de pesquisa:
1-    Função Norteadora                  -Dar uma direção a pesquisa
2-    Função Delimitadora               -Restringir o campo da pesquisa
3-    Função Interpretativa           -Propor uma possível solução para o problema investigado
4-    Função Argumentativa            -Desencadear inferências e funcionar como pontos de partida para dedução
5-    Função Complementadora     -Preencher lacunas do conhecimento
6-    Função Multiplicadora             -Aplicabilidade adaptada a outras pesquisas
7-    Função Unificadora                 -Organizar ou unificar conhecimentos já adquiridos
Também, segundo o autor, para a formulação de uma boa hipótese ela deve seguir 12 conceitos:
Solução Possível, Sentença declarativa, Concisão, Coerência, Clareza Exatidão, Interação,Especificidade, Relevância, Pertinência, Plausibilidade, Verificabilidade.
“Uma tese ou projeto de pesquisa pode apresentar mais de uma hipótese central, ou também uma única hipótese central que, eventualmente desdobra em sub-hipóteses (...)” (grifos do autor) (p. 185)


[1]  BARROS, JOSÉ A. O projeto de Pesquisa em História: Da escolha do Tema ao Quadro Teórico – 5 ed. - Petrópolis, SP: Vozes, 2009.
[2] Graduando no 2º ano de Licenciatura no curso de História pela UNIFEOB
[3] Historiador e professor de história, com doutorado em história social pela Universidade Federal
Fluminense. Possui dentre suas obras: “A construção social da cor”, “Projeto de pesquisa em história”
e “Cidade e história”.

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